Real Digital: Para que serve e quem pode usar nova forma de dinheiro do BC
O que é o real digital?
O real digital é a versão digital da moeda brasileira, mas não é uma criptomoeda. O real digital vai ser um sistema com duas moedas: uma de atacado (chamada de real digital), que será usada para pagamentos entre o BC e instituições financeiras autorizadas, e uma de varejo (chamada de real tokenizado), que será emitida pelo mercado e vai chegar ao consumidor final.
O real tokenizado vai permitir transações entre pessoas de forma direta. Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação, dá um exemplo prático: na Califórnia, as pessoas conseguem tokenizar o documento do carro. Na hora de vender, a própria pessoa consegue acessar o documento e trocar a titularidade, sem precisar ir a algum despachante ou cartório.
A principal diferença entre as criptomoedas e o real digital é que ele vai ser regulado. Moedas como bitcoin e ethereum não têm nenhum tipo de regulamentação. O valor das moedas é sempre o mesmo: um real digital equivale a R$ 1.
A moeda chamada real digital não vai ser usada diretamente com os brasileiros. O que o BC resolveu fazer foi criar uma forma unificada de registrar os balanços com as instituições usando uma estrutura fechada. Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação
O BC vai começar testes com títulos do Tesouro, pela segurança que tem, mas a ideia é que possa fazer isso com tudo. Isso cria um mercado infinito, não sabemos a criatividade dos agentes do mercado. Yuri Nabeshima, head da área de inovação do VBD Advogados
O real digital é a emissão de uma moeda que precisa ter custódia pelas instituições e uma paridade entre o digital e o dinheiro físico. Não pode emitir se você não souber que tem uma reserva correspondente, por exemplo. A ideia do BC não é criar um novo sistema, mas complementar o que já existe. Criar uma nova forma de dinheiro. Yuri Nabeshima
O que é o projeto-piloto do BC
O projeto vai focar no desenvolvimento da infraestrutura para a criação do real digital. O real digital está sendo chamado de "Pix dos serviços financeiros" pelo BC. Todas as transações vão ser simuladas, com a participação do BC e agentes do mercado para realizar os testes necessários antes de o real digital ser implementado oficialmente.
O objetivo do real digital é facilitar as transações e diminuir os custos
Cronograma do projeto
Abril de 2023: O BC fará um workshop com participantes do mercado para discutir as diretrizes do piloto.
Maio de 2023: BC vai selecionar as instituições financeiras que vão participar ativamente do projeto piloto. Ainda não há regras para definir quem serão os selecionados.
Dezembro de 2023: A expectativa é de que o real digital e o real tokenizado estejam bem desenvolvidos.
Fevereiro de 2024: Começam os testes de compra e venda de ativos do Tesouro Nacional com o real digital.
Março de 2024: Início da avaliação final do projeto-piloto para entender o que funcionou e o que precisa ser aprimorado.
Final de 2024 (sem data definida): Lançamento aos brasileiros. O BC diz que é uma previsão e que o projeto pode atrasar caso precisem realizar mais testes.
É uma coisa de infraestrutura e bastidor, mas não vai mudar a forma como o cidadão lida com o seu dinheiro. Hoje cada banco tem seu sistema para fazer a consolidação de informações, com muitos softwares que precisam conversar entre si. Arthur Igreja
Quando você faz uma compra e venda de título, hoje leva alguns dias para liquidar. Quando for tokenizado, vai poder fazer na hora. Vai ser como fazer um Pix. Arthur Igreja
Como o real digital pode funcionar na prática
Ainda não dá para saber todos os tipos de serviço que vão surgir a partir da criação do real digital. Fábio Araújo, coordenador da iniciativa do real digital no BC, disse em coletiva de imprensa que as soluções serão criadas pelas instituições financeiras. Araújo disse que o BC é responsável por regulamentar a nova ferramenta, mas que o mercado é que é criativo para implementar novas soluções.
Uma funcionalidade possível é que o real digital seja usado para pagamentos, por meio de carteiras digitais, de acordo com Nabeshima.
Outra possibilidade são os "contratos inteligentes". Na prática, eles permitem programar pagamentos e transações que podem começar a partir de objetos, como na venda de um carro.
O que eles falaram sobre as aplicações, e foram bastante explícitos, é que vai estar na mão das empresas financeiras. Estão colocando na mão de quem tem relacionamento com as pessoas. No futuro, isso vai virar uma função no app do banco, que já tem relacionamento com o consumidor. Arthur Igreja
Algumas aplicações do real digital foram testadas no Lift Challenge. É uma edição especial de um laboratório de inovação do BC para avaliar possíveis funções do real digital criadas por agentes do mercado. Conheça algumas delas:
O Itaú estudou transferências internacionais de dinheiro. Os testes foram feitos com envios de recursos da tesouraria do Itaú brasileiro para a unidade do banco na Colômbia.
A Visa focou em pequenas e médias empresas, buscando uma forma para que estas companhias tivessem acesso a fundos de investimentos internacionais por meio do real digital.
A Vert, empresa de tecnologia para serviços financeiros, tinha como objetivo oferecer crédito rural via real digital, de forma mais fácil, rápida e com menos etapas.
O Santander propôs uma solução que permite que o pagamento de um bem, como um carro ou imóvel, acontece no mesmo instante em que seu direito de propriedade é transferido para o comprador.
A Febraban apresentou uma solução de entrega de encomendas para o e-commerce por uma rede de armários programáveis baseada na internet das coisas. Na prática, oferece uma solução de logística em que diferentes plataformas de e-commerce poderão ter acesso a pontos seguros de entrega.
O dinheiro vai deixar de existir? A circulação deve diminuir, mas não sumir completamente. Nabeshima diz que a circulação de dinheiro já diminuiu com funcionalidades como o Pix e pela própria pandemia.
No entanto, diz que o dinheiro físico não vai acabar de uma hora para outra e que não será apenas pelo real digital se isso de fato acontecer. É uma tendência que já vem se desenhando.
Fonte: UOL