O banqueiro escondeu dinheiro
Em outubro de 2021, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos revelou, nos mais importantes veículos da imprensa mundial, que 35 líderes de nações, atuais e antigos chefes de Estado, além de 300 funcionários públicos de diversos países escondiam dinheiro, por meio de empresas offshore, em paraísos fiscais.
O escândalo batizado de Pandora Papers jogou luz sobre a dinheirama mocozada por milionários e bilionários em diversos países. No Brasil, 2 mil ricaços foram identificados como sócios de empresas abertas em paraísos fiscais. Entre eles, dois funcionários públicos pegos com a boca na botija: o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos.
Além desses dois funcionários do governo Bolsonaro, empresários aliados do ex-presidente — sob investigação da CPI da Covid e do Supremo Tribunal Federal sobre o financiamento de redes de disseminação de notícias falsas: Luciano Hang e Otávio Fakhoury.
Na época, os dois integrantes da equipe econômica do governo Bolsonaro soltaram notas insossas e fingiram que aquilo bastava para dar satisfação à opinião pública. Campos Neto era o dono da Cor Assets S.A., uma offshore no Panamá, paraíso fiscal situado na América Central.
Ele criou a empresa em 2004, com capital de US$ 1,09 milhão de dólares – o equivalente hoje a R$ 5,7 millhões, e continuava como controlador quando assumiu o posto no governo em fevereiro de 2019. Diferente de Guedes, ele fechou a offshore em outubro de 2020. Mas, durante os 21 meses em que presidiu o BC na condição de dono da Cor Assets, Campos Neto poderia ser enquadrado no artigo 5º do Código de Conduta.
Como presidente do BC, o neto do ex-ministro do Planejamento da Ditadura Militar, Roberto Campos, teve acesso a dados estratégicos, como câmbio e taxas de juros, capazes de afetar seus investimentos lá fora. Em julho do 2020, por exemplo, assinou uma portaria mudando as regras para a declaração de ativos no exterior. Até então, todo brasileiro que tivesse mais de US$ 100 mil fora do país tinha que informar o BC.
Com a portaria, o valor subiu para 1 milhão de dólares – uma mudança que, dizem especialistas e gente do mercado financeiro, reduziu a transparência dos investimentos de brasileiros no exterior. Não se sabe o volume de recursos que Campos Neto mantinha em sua offshore quando a fechou. Nos Pandora Papers, não aparece essa informação.
A empresa tinha como sócios o próprio Campos Neto e sua mulher, a advogada Adriana Buccolo de Oliveira. Na época, ele se limitou a declarar que havia prestado informações à Receita Federal. E tudo bem. Nem a imprensa comercial insistiu em apontar o conflito de interesses envolvendo o sonegador e banqueiro, por acaso, no caso a própria pessoa. Ficou tudo por isso mesmo. •
Fonte: Fundação Perseu Abramo