Número de pessoas que pedem demissão voluntária no Brasil atinge nível recorde; Entenda
Com o mercado de trabalho aquecido, o número de demissões voluntárias alcançou um pico de 2.124.619 desligamentos dessa natureza no primeiro trimestre deste ano, uma alta de 10,7% em relação ao primeiro trimestre de 2023. Oito em cada dez desses demissionários tinham entre o ensino médio completo e o ensino superior completo, o que sinaliza uma migração para vagas mais bem remuneradas e qualificadas.
As informações são de estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast. O levantamento tem como base os microdados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho.
Essa taxa de demissão voluntária é um forte indicativo de pressão sobre o mercado de trabalho, apontaram as pesquisadoras Janaína Feijó e Giovana Ferreira, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV).
“O comportamento do mercado formal recente sinaliza que há uma maior oferta de vagas formais e isso possibilita que a mão de obra migre para postos que ofereçam melhores oportunidades”, diz o estudo.
Esse foi o caso de Átila Macedo, de 47 anos, que pediu demissão de um cargo de coordenação de responsabilidade social em uma empresa de mineração para ascender a um posto de gerente de territórios em outra grande companhia do mesmo setor, no Maranhão. Macedo foi sondado em fevereiro por uma consultoria especializada na busca de talentos, e o desligamento do emprego que ocupava até então foi efetivado em março, para que o profissional já começasse no novo posto em abril.
“Em primeiro lugar, eu estava buscando crescimento profissional, almejando sempre uma posição melhor”, relatou Macedo. “Além da questão da carreira, tem todo o viés da estrutura da empresa, benefícios, salário.”
Houve um aumento de 77% na procura por gerentes e diretores por empresas brasileiras no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2023, aponta um levantamento feito pela consultoria de recursos humanos Grupo Hub, que atende clientes como Vale, Ambev e Stellantis. Segundo a consultoria, a tendência ocorre em todos os setores, com destaque mais expressivo para contratações nas áreas de finanças, mineração, agronegócio e varejo e bens de consumo.
Nível educacional
O estudo da FGV mostra que 79,9% dos demissionários a pedido tinham nível educacional mais elevado no primeiro trimestre de 2024: 67,6% das demissões voluntárias foram solicitadas por trabalhadores com ensino médio completo ou superior incompleto, enquanto 12,3% eram pessoas com ensino superior completo.
“Esse fenômeno das demissões a pedido corrobora essa questão do aquecimento do mercado de trabalho. Porque se nós estamos em um contexto em que está gerando mais postos e as pessoas estão pedindo por vontade própria para sair, provavelmente é porque elas querem entrar em outra posição no mercado de trabalho. Porque não é natural que uma pessoa peça demissão para ficar em casa. O natural é que ela vá fazer uma movimentação. Ela vislumbrou que o mercado de trabalho está oferecendo oportunidades melhores, então ela opta por sair do seu trabalho atual para entrar em uma posição ou com o salário mais elevado ou mesmo empreender”, disse a economista Janaína Feijó.
Apenas no mês de março de 2024, houve um recorde de 722.540 demissões a pedido, alta de 3,75% ante o mesmo mês do ano anterior. O bom desempenho da geração de vagas formais sugere que esses trabalhadores estão migrando para vagas mais condizentes com suas qualificações, com melhores remunerações.
“É fato que quando há essa movimentação no mercado de trabalhadores por posições mais vantajosas e mais benéficas, seja porque há uma oferta de emprego com salários mais elevados ou porque o trabalho tem mais qualidade, isso é um sinal de aquecimento”, reforçou Janaína Feijó. “A gente pode dizer que o mercado de trabalho está aquecido como no início da década de 2010? Não, porque a elevação do salário tem acontecido, mas de forma muito tímida. Mas, como as demissões a pedidos estão mês a mês se elevando, mostrando recordes, então isso é um sinal de aquecimento”, disse.
O País registrou uma abertura líquida de 719.033 empregos com carteira assinada no primeiro trimestre deste ano, saldo 33,9% maior do que o computado no primeiro trimestre de 2023. No mês de março, foram criados 244.315 postos formais, o melhor resultado para o mês na série histórica iniciada em 2020. O resultado, acima do esperado, mantém as expectativas elevadas para o desempenho do mercado de trabalho formal no ano de 2024, apontou Feijó.
“O saldo está muito forte, então ele vai contribuir para um desempenho melhor no mercado de trabalho acumulado do ano de 2024. As projeções dos analistas têm subido”, concluiu a economista do Ibre/FGV.
Fonte: Estadão