Lucro dos quatro maiores bancos supera ‘Peso Americanas’ e deve chegar a R$ 26 bi
O lucro dos quatro maiores bancos listados do País deve apresentar um crescimento anual de 30,1% nos números consolidados do quarto trimestre de 2023, para R$ 26 bilhões, de acordo com a média das estimativas das casas de análise consultadas pelo Broadcast. O expressivo resultado reflete a comparação com a temporada mais afetada pela crise da Americanas, mas também a gradual melhoria da qualidade do crédito. Os balanços dos grandes bancos começam a sair em 31 de janeiro.
A Americanas entrou em recuperação judicial no primeiro trimestre do ano passado, mas Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco e Santander Brasil contabilizaram provisões contra o possível calote da empresa já nos balanços do quarto trimestre de 2022. À exceção do Santander, os outros três têm provisões equivalentes a todo o crédito que precisam receber da rede de varejo, que fechou um acordo com credores no final do ano passado.
Sem o peso do fator Americanas, os resultados devem continuar a refletir a diferença de compasso entre Itaú e Banco do Brasil, de um lado, e Bradesco e Santander Brasil, de outro. Entretanto, todos os quatro bancos devem mostrar algum sinal de melhora, seja nos índices de inadimplência, seja na concessão de crédito.
Índice de inadimplência deve melhorar
“No último trimestre, vimos os primeiros sinais de uma inflexão nos índices de inadimplência, com uma relativa estabilidade no indicador acima de 90 dias e melhoria nos indicadores antecedentes – com base nos dados do Banco Central, esperamos que essa tendência continue, principalmente para o segmento de varejo”, afirmou o analista Yuri Fernandes, do JPMorgan, em relatório.
Na visão da XP Investimentos, Itaú e BB, que mostraram inadimplência mais controlada ao longo dos últimos dois anos, devem crescer mais, com índices de atraso praticamente estáveis. Bradesco e Santander devem manter o conservadorismo, com menor custo de crédito.
Olho no Bradesco
As atenções devem ser divididas entre os números dos balanços e anúncios para além deles. O principal deve vir da Cidade de Deus. “Embora o quarto trimestre do Bradesco deva ser um ‘não-evento’, este provavelmente é o resultado mais esperado da temporada, considerando a expectativa de anúncio de um novo plano estratégico por Noronha”, escreveu Daniel Vaz, analista do Safra.
Marcelo Noronha, que era o vice-presidente responsável pelo varejo do Bradesco, assumiu o banco em novembro passado, sucedendo a Octavio de Lazari Junior. O mercado acredita que ele revelará planos para a reformulação do banco, em especial no atendimento aos clientes de baixa renda.
O segmento é o “coração” do Bradesco, mas viu a rentabilidade despencar nos últimos anos com a alta da inadimplência e a competição com bancos digitais, que abocanharam boa parte dos clientes. “O banco pretende voltar a crescer no segmento de baixa renda, mas para isso, terá que diminuir muito o custo de servir, o custo de aquisição e melhorar a inadimplência”, afirmou Eduardo Nishio, da Genial.
Mercado espera mais dividendos do Itaú
No Itaú, a expectativa é pelo anúncio de um muito aguardado aumento nos dividendos, diante do excesso de capital que o banco tem mantido e de novas regras contábeis mais brandas que o esperado. Hoje, o maior banco da América Latina distribui aos acionistas 25% do resultado, e sinalizou que deve aumentar essa distribuição, via dividendos ou instrumentos como a recompra de ações.
Outro foco estará nas projeções dos bancos para 2024, os chamados “guidances”. Do grupo, Itaú, BB e Bradesco divulgam projeções formais para indicadores como carteira de crédito, despesas operacionais e margens. O Santander não as fornece, mas costuma dar sinalizações informais sobre o que esperar.
Mario Pierry, analista do Bank of America (BofA), acredita que BB, Itaú e Bradesco devem divulgar projeções similares para o aumento das margens em relação a 2023, entre 8% e 10%. A composição deve ser diferente: no Bradesco, a tesouraria deve ser mais positiva, enquanto Itaú e BB devem ganhar em margem com clientes graças a um crescimento mais forte das carteiras.
Nas provisões, a expectativa do BofA é que o Bradesco sinalize um crescimento ainda alto, dado que o índice de cobertura do balanço está abaixo da média histórica. No Itaú, há espaço para um custo de crédito menor, enquanto o BB, segundo Pierry, tende a elevar provisões este ano.
Fonte: Estadão