Jogos de apostas comprometem o consumo dos mais pobres e impactam indústrias
Na última segunda-feira (23), a principal notícia do dia foi o decreto de prisão do cantor sertanejo Gusttavo Lima, investigado pela prática de lavagem de dinheiro, prática de jogos ilegais e de dar subsídio para a fuga de um casal também investigado na Operação Integration.
Além de estar relacionado a crimes, os jogos de apostas, que viraram uma febre no Brasil e no mundo, estão causando diversos problemas econômicos e sociais para a população, especialmente entre as classes mais baixas e entre os mais jovens.
Foi o que constatou o varejo. Líderes de quinze entidades empresariais divulgaram um manifesto entregue ao presidente em exercício Geraldo Alckmin (PSB), a fim de alertar o Planalto sobre os riscos associados ao crescimento de gastos dos consumidores com esta nova modalidade de aposta.
Para comentar o manifesto e as reivindicações do varejo, o programa TVGGN 20H contou com a presença de Fernando Pimentel, CEO e Presidente Emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
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Pimentel afirmou que quase metade dos apostadores (46%) são jovens de 19 a 29 anos, dos quais 34% pertencem às classes C, D e E, de acordo com o resultado do levantamento do Instituto Locomotiva.
E o novo vício gerou efeitos na atividade econômica do país. “A Associação Brasileira dos Supermercados estava identificando queda de consumo, inclusive de alimentos mais fundamentais, por conta de restrições orçamentárias advindas do crescimento das apostas digitais”, aponta o entrevistado.
Pimentel ressalta que a novidade é que até a receita vinda de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, está sendo utilizado para sustentar as também chamadas de bets (apostas).
Assim, entre as demandas das entidades empresariais estão a regulamentação, além de medidas preventivas, como a proibição do uso do cartão de crédito como meio de pagamento para custear as apostas.
“No momento, [o vício em apostas em plataformas digitais] está afetando realmente a saúde [dos usuários] pelo que a gente tem acompanhado. Temos relatos de empresas dizendo que seus funcionários têm pedido antecipação de salários ou até mesmo para serem despedidos para poder recuperar uma venda indenizatória e quitar dívidas de jogo”, alerta.
Segundo Pimentel, as reivindicações encaminhadas ao Planalto são:
- Promover uma maior e mais ampla sensibilização sobre o potencial de problemas sociais que advirão da expansão tal como está ocorrendo;
- Regulamentar a comunicação publicitária, patrocínios de outras modalidades convencionais ou digitais de estímulos às apostas. Por exemplo, horários de determinados tipos de comunicação;
- Impedir de forma imediata o uso de cartão de crédito para pagamento das apostas, o que só ocorreria em 2025 pela legislação aprovada;
- Impor responsabilidade às empresas de apostas para que se tornem corresponsáveis por tratamentos envolvendo saúde mental causados pelo vício com jogos nessas modalidades;
- Rever a tributação prevista na Lei 14.790 de 2023, de modo que ela seja mais gravosa na operação de apostas online, tanto para a empresa de apostas, quanto para o apostador.
Problema sem fim
Para o entrevistado, as medidas propostas não têm como finalidade acabar com as bets, até porque “elas não se acabam”, tendo em vista o interesse de governos em aumentar a arrecadação, assim como a atuação deste tipo de empresa ao financiar atividades nobres, como os esportes olímpicos.
No entanto, ao mesmo tempo em que gera receita, os jogos de apostas também jogam pessoas a uma situação altamente vulnerável, tendo em vista a falta de educação financeira e ausência de autocontrole dessa população.
“Segundo os estudos que nós estamos acompanhando, [o jogo de aposta] está chegando com muita ênfase nas pessoas de menor idade, os mais jovens, e também pegando as categorias de renda menos atenuadas, o que vai afetar o consumo. Eles usaram essa pesquisa e eles mostram que há renúncia de saída de ir a bar a restaurante, etc, etc, para o jogo.O jogo acaba sendo visto como um investimento e não como algo de azar. Quer dizer: o cara aposta que vou ficar rico com isso, só um pouquinho, só um pouquinho vai entrando naquela ciranda como um viciado, e que daqui a pouco está todo encalacrado com a sua renda e comprometendo a família e tudo mais”, emenda Pimentel.
Confira a entrevista completa na TVGGN:
Fonte: GGN