Da IA à desigualdade, os avanços e desafios do ‘novo dinheiro’

Da IA à desigualdade, os avanços e desafios do ‘novo dinheiro’

Berço de algumas das maiores fintechs do mundo, a América Latina testemunha a transformação dessas inovações em infraestrutura financeira e a mutação de todo tipo de companhia — de varejistas a bancos tradicionais — em provedoras de soluções digitalizadas para o dinheiro. O movimento, fomentado por órgãos reguladores e investidores de ambição global, tem ajudado a aumentar a penetração de servições financeiros em uma das regiões mais “desbancarizadas” do planeta. Mas a desigualdade de acesso e o custo elevado permanecem sendo um calcanhar de Aquiles — e a incerteza sobre o impacto de inovações como a inteligência artificial torna o desafio mais complexo.

Foi esse o cenário descrito por dezenas de empreendedores e investidores do setor financeiro que estiveram no Web Summit, que fez das fintechs um dos seus temas de predileção. Um dos consensos é que reguladores, como o Banco Central brasileiro, têm sido um dos vetores da inovação no segmento.

— O Pix é uma revolução de impacto global. Já é o sistema de pagamento de maior crescimento do mundo. O UPI, da Índia, já responde por 40% das transações financeiras de todo o planeta. Esses são modelos para o resto do mundo, e já há cem países de olho nesse tipo de infraestrutura — resumiu o americano Michael Schlein, à frente da Accion, ONG dedicada às microfinanças.

Esse tipo de inovação tem sido o catalisador da digitalização, afirmou Wagner Ruiz, cofundador da firma de pagamentos Ebanx:

— É digitalizar ou morrer, especialmente no Brasil. Quem não faz isso sofre as consequências.

As instituições “tradicionais” aceitam o imperativo, mas tentam balanceá-lo com as condições de um país continental e desigual.

— O segredo é entender como entregar esse banco “físico-digital” na medida que cada região necessita. A complexidade da necessidade do cliente dita o desenvolvimento do portfólio — disse Tarciana Medeiros, presidente do Banco do Brasil.

O desafio é ainda maior em outros países da América Latina. No México — onde varejistas de peso como a Oxxo vem robustecendo sua oferta financeira —, 80% das transações ainda são feitas em dinheiro, exemplificou Juan Pablo Ortega, cofundador da Rappi e da fintech Yuno.

— A tecnologia existe, mas como torná-la acessível? Grande parte dos telefones da região são pré-pagos e não conseguem usufruir da maioria dessas aplicações — questionou a argentina Gabriela Ruggeri, do fundo Kamay Ventures.

Outro desafio é o custo. Michael Schlein observou que, a despeito da disrupção do Pix e de outras inovações fomentadas pelo BC, os juros do crédito no Brasil continuam excessivamente altos:

— As pressões do mercado que mantêm as taxas altas são estranhamente resistentes.

Impacto da IA

Como se não bastasse o desafio do custo e do acesso, fintechs e bancos ainda tentam compreender o impacto que novidades como a IA generativa terão sobre seus negócios.

— A IA tem potencial revolucionário para as fintechs, uma vez que há enorme assimetria de informação no mercado financeiro. A IA pode destravar valor. Mas não acho que as ferramentas generativas possam ser usadas em todas as etapas, porque há o problema da chamada “alucinação” (criação de conteúdo incorreto), o que é inaceitável para serviços financeiros — opinou Aline Pezente, fundadora da fintech Traive, que usa IA para ampliar o crédito ao setor agro. — E tem alguns empreendedores que apenas dizem que usam IA e muito fundo que finge entender do que se trata! — brincou.

Para Rodrigo Cabernite, da Gyra+, cujo software ajuda empresas a fazerem análise de crédito, as fintechs terão que encontrar a IA que faz mais sentido para elas.

— Estamos mais focados em IAs de modelos preditivos do que na IA generativa do ChatGPT.

A cobertura do Web Summit Rio 2024 na Editora Globo é apresentada pelo Senac RJ e Itaú, com o apoio da Prefeitura do Rio | InvestRio.

Fonte: O Globo

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