Com perdas bilionárias, instituições financeiras aumentam gastos com compliance

Com perdas bilionárias, instituições financeiras aumentam gastos com compliance

As instituições financeiras brasileiras devem desembolsar R$ 47,4 bilhões com investimentos em dados, segurança e experiência do cliente durante o decorrer de 2024. A compliance contra crimes financeiros é um dos principais fatores para os gastos exorbitantes dos 113 bancos associados à Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Apenas para treinar R$ 226,4 mil profissionais de tecnologia foram gastos R$ 39,9 milhões no ano passado, um aumento de 139% se comparado a 2022, conforme levantamento da Febraban. A alta dos custos de compliance, porém, foi observada em toda a América Latina, que registrou salto de 97% nos custos, em 2023.

Ao todo, foram desembolsados US$ 15 bilhões, de acordo com estudo encomendado à Forrester Consulting pela LexisNexis Risk Solutions. O levantamento apontou ainda que as instituições financeiras vêm procurando formas de reduzir custos e, ao mesmo tempo, cumprir as regulamentações.

“As instituições financeiras possuem um arcabouço normativo bem robusto, que precisa estar sempre em compliance com transações, para gerar segurança e transmitir credibilidade aos associados. Desta forma investimos fortemente em tecnologia e em ambiente de controles internos, adequado à complexidade do nosso negócio”, explicou o diretor de riscos do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), Alaor José de Morais.

Alaor afirma que um sistema de controles internos – compliance – bem estruturado é fundamental para a instituição minimizar os impactos financeiros de possíveis perdas decorrentes de transações fraudulentas. A fim de evitar esse tipo de prejuízo, o Sicoob usa um sistema financeiro brasileiro que, segundo o diretor de risco, é um dos mais modernos do mundo.

Por meio do sistema, inclusive, é possível identificar indícios de crime por meio de transações. A partir da suspeita, a instituição precisa seguir todos os normativos do Banco Central para melhor subsidiar os órgãos responsáveis pela apuração do crime de fato.

“Com a ampliação do volume de transações dos canais digitais, um dos crimes que mais identificados é a abertura e movimentação de contas digitais com documentos falsos. Na maioria das vezes, elas são utilizadas para receber e ocultar a origem de recursos ilícitos obtidos de forma fraudulenta”, contou Alaor.

Prejuízos bilionários
Além do crime citado por Alaor, há pelo menos outras cinco práticas corriqueiras contra essas empresas, de acordo com Cristiano Moreno, presidente da Comissão de Direito Digital da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Goiás (OAB-GO). A primeira é o phishing, onde os criminosos tentam obter informações pessoais e financeiras dos clientes por meio de e-mails ou sites falsos.

O hacking, que envolve invadir os sistemas de computador das instituições para roubar dados confidenciais ou realizar atividades fraudulentas; ataques de malware, como vírus, ransomware e trojans, que podem comprometer a segurança dos sistemas e permitir o acesso não autorizado às informações financeiras; e fraudes por cartão de crédito ou débito, onde os criminosos obtêm ilegalmente os dados dos cartões para fazer transações fraudulentas.

Há ainda a falsa central telefônica, quando o criminoso liga para a vítima fingindo ser funcionário de um banco a fim de pedir transações ou pegar dados pessoais para cometer fraudes. Essa modalidade tem feito com que bancos e as forças de segurança pública realizem cartilhas e recomendações educativas a fim de prevenir golpes e, consequentemente, prejuízos.

Dos valores arrecadados por criminosos cibernéticos por meio destes e outros crimes, somente 5% são recuperados, com perdas atingindo a marca de R$ 2,5 bilhões em 2022. Mesmo com medidas de segurança, as empresas encontram dificuldades para rastrear contas bancárias fraudulentas. Isso porque as estratégias dos golpistas se adaptam para contornar as medidas, realizando múltiplas transferências de valores para diferentes instituições financeiras.

“Os crimes digitais podem ser praticados de diversas maneiras e por diferentes tipos de perpetradores, incluindo funcionários internos, terceiros e criminosos organizados. Funcionários desonestos podem usar seu acesso privilegiado aos sistemas internos para realizar atividades fraudulentas, como desviar fundos, vazar informações confidenciais ou facilitar ataques cibernéticos”, conta Cristiano.

Em Goiás, conforme dados do Anuário de Segurança Pública, foram registradas 35.290 ocorrências do tipo em 2020 e 55.603 em 2021. Ao ser vítima de algum golpe, é orientado procurar a instituição financeira para tentar impedir o prosseguimento da ação. Depois, recomenda-se procurar a delegacia especializada em crimes cibernéticos para que o golpista seja identificado e penalizado.

Entretanto, há formas de evitar ser enganado, visto que praticamente todas as plataformas oferecem mecanismos de segurança básicos que precisam ser aplicados para mitigar o risco de cair em um golpe.

Cristiano Moreno detalha como evitar que dados pessoais sejam usados por pessoas mal-intencionadas

“Não se deve usar senhas fracas ou que representam algum dado pessoal como data de aniversário, parte do CPF. O cuidado com os dados pessoais é extremamente importante, pois é por meio deles que os golpistas conseguem criar situações que parecem cotidianas e aplicarem os golpes”, destacou o advogado.

Perdas refletem em juros?
Mesmo com o prejuízo bilionário anual e os gastos para combater fraudes, os bancos não repassam as perdas aos clientes, de acordo com o economista Luiz Carlos Ongaratto. O especialista diz que a quantia faz parte da operação das instituições financeiras, que já trabalham com altas margens de lucro.

“O compliance tem a ver com a própria segurança da informação, que é o principal risco da atividade bancária hoje. A cibersegurança, que é regulamentada por lei, é vital para a existência do banco. O banco precisa fazer isso para continuar operando e, caso não siga uma norma de compliance, pode ser multado pela CVM e Banco Central”, explicou.

A profissionalização e a demanda por profissionais qualificados por parte do setor bancário e a necessidade de desenvolvimento de soluções de tecnologia, são fundamentais para a economia brasileira. O setor de serviços (que inclui instituições financeiras), por exemplo, é o principal motor do Produto Interno Bruto (PIB), responsável por aproximadamente 70% de tudo o que é produzido no Brasil.

“[Os bancos ajudam a criar] novas empresas, novas empresas vindas do exterior. É um dos mais fortes da economia”, concluiu Luiz.

O estudo
O estudo sobre os gastos com a compliance financeira foi realizado pela Forrester Consulting à pedido da LexisNexis Risk Solutions. Segundo o levantamento, 39% das instituições financeiras identificam a escalada das exigências relacionadas a crimes financeiros e as expectativas regulatórias como o principal fator impulsionador do aumento dos custos de compliance.

O relatório, intitulado “O Real Custo do Compliance contra Crimes Financeiros – América Latina”, revela que 69% das instituições financeiras estão priorizando a redução de custos do programa de compliance nos próximos 12 meses. Isso pode ser explicado pelo fato de que 67% delas testemunharam aumentos mais elevados nos custos de compliance relacionados ao trabalho no Brasil, na Colômbia e no México, enfatizando o investimento necessário em recursos altamente qualificados para cumprir requisitos de compliance rigorosos.

Os custos de tecnologia também estão impulsionando aumentos nas despesas das instituições financeiras, enfatizando o investimento substancial necessário para cumprir requisitos de compliance rigorosos. Especificamente, 69% das organizações notaram aumentos nos custos de tecnologia relacionados com redes, sistemas e trabalho remoto, incluindo 80% das empresas no México, 76% no Brasil e 63% na Colômbia.

“Equipes internas de compliance qualificadas são essenciais, mas as empresas devem procurar ativamente maneiras de reduzir os custos trabalhistas e, ao mesmo tempo, melhorar a eficiência do compliance. Os criminosos se adaptam rapidamente e as instituições financeiras necessitam de um parceiro com ferramentas, dados e análises avançadas não apenas para acompanhar o ritmo, mas também para permanecer à frente dos criminosos”, diz Matt Michaud, head global de Compliance de Crimes Financeiros da LexisNexis Risk Solutions.

O estudo compila respostas de 268 tomadores de decisão seniores responsáveis pelo cumprimento das regulamentações contra crimes financeiros em instituições financeiras na América Latina, incluindo Brasil, Chile, Colômbia, México e Panamá. O levantamento destaca os principais pontos problemáticos relacionados aos custos, ao estado atual e aos desafios apresentados pelas operações de compliance contra crimes financeiros.

Fonte: Jornal Opção

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