BC eleva Selic em 0,25 ponto percentual, a 10,75% ao ano
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual, de 10,5% para 10,75% ao ano, na primeira alta feita durante o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A decisão foi unânime entre os membros do colegiado, com Gabriel Galípolo –indicado por Lula ao comando do BC em 2025– alinhado ao atual chefe da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.
O comitê disse que o cenário demanda um política de juros mais contracionista, ou seja, que ajude a frear a força da atividade econômica para assegurar o controle da inflação.
Como justificativa, o colegiado citou a resiliência da economia brasileira, as pressões do mercado de trabalho, a elevação das projeções de inflação, as expectativas distantes da meta perseguida e o hiato do produto positivo (indicação de que a atividade está operando acima do seu potencial, aquecida e sujeita a pressões inflacionárias).
O Copom deixou seus próximos passos em aberto e evitou se comprometer com a intensidade e com o tamanho do ciclo de alta de juros.
"O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos", disse o colegiado do BC em trecho do documento.
Esse foi o primeiro aumento de juros em mais de dois anos –em agosto de 2022, a taxa subiu de 13,25% para 13,75% ao ano. A Selic ficou um ano parada naquele patamar até o início do processo de flexibilização do aperto monetário em agosto do ano passado.
Ao longo do ciclo de queda, houve recuo de 3,25 pontos percentuais no acumulado, com seis reduções de 0,5 ponto e uma de 0,25 ponto. Depois da sucessão de cortes, foram duas manutenções seguidas, nos encontros de junho e julho.
A decisão pelo aumento mais brando veio em linha com a expectativa do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que a alta da Selic em 0,25 ponto era a projeção majoritária dos economistas consultados.
Esse foi o primeiro encontro do Copom desde que Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, foi indicado à presidência do BC. Ele será sabatinado na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado em 8 de outubro. Se aprovado, iniciará o processo de transição em um cenário de elevação de juros.
Até o fim do ano, quando termina o mandato de Campos Neto, o Copom tem duas rodadas de reuniões: 5 e 6 de novembro e 10 e 11 de dezembro. No ano que vem, sete dos nove membros da cúpula do BC terão sido nomeados por Lula.
Nesta quarta, os juros seguiram direções opostas no Brasil e nos EUA. O Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) cortou as taxas em 0,5 ponto percentual, para a faixa entre 4,75% e 5%. Foi a primeira redução dos juros desde março de 2020. Esse cenário é favorável para a taxa de câmbio de países emergentes, como o Brasil, e pode tirar um pouco de pressão sobre os próximos passos do BC.
No comunicado, o Copom disse que o ambiente externo permanece "desafiador" e que o movimento de "inflexão do ciclo econômico" nos EUA levanta dúvidas sobre os ritmos da desaceleração da economia e do processo de desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed.
"O comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes", disse o BC no comunicado.
No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação para este ano subiram de 4,2% para 4,3% e, para 2025, tiveram alta de 3,6% para 3,7%. A estimativa do indicador para o primeiro trimestre de 2026, horizonte de tempo na mira do BC, situa-se em 3,5% (era de 3,4% em julho).
A taxa de câmbio usada pelo Copom foi de R$ 5,60, contra R$ 5,55 no encontro anterior.
O colegiado também passou a considerar bandeira tarifária de energia elétrica amarela em dezembro –até então adotava bandeira verde no fim do ano. No início de setembro, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) acionou a bandeira vermelha patamar 1.
O comitê mudou a avaliação sobre o balanço de riscos para a inflação, agora assimétrico para cima.
Entre os fatores que puxariam a alta de preços, mencionou o risco de as expectativas de inflação seguirem distantes da meta por período mais prolongado, uma maior resiliência na inflação de serviços e uma conjunção de políticas econômicas internas e externas que tenham impacto inflacionário no Brasil. Neste caso, deu como exemplo a taxa de câmbio ficar persistentemente mais depreciada.
Entre riscos que levariam os preços para baixo, citou a possibilidade de desaceleração da atividade econômica global mais acentuada e a chance de os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes.
Desde a reunião anterior, o dólar continuou mostrando força frente ao real, a previsão do PIB (Produto Interno Bruto) refletiu uma economia ainda aquecida no Brasil e cresceu a preocupação com a trajetória da inflação diante das mudanças climáticas e dos possíveis efeitos da estiagem sobre preços de alimentos e energia elétrica.
As projeções de inflação seguiram distantes do centro da meta, afetadas também pelas incertezas dos agentes econômicos sobre os rumos das contas públicas do país.
Quanto ao fiscal, o Copom repetiu a mensagem de comunicados anteriores, dizendo que monitora com atenção os desdobramentos do tema. "A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes", reafirmou.
Conforme dados do boletim Focus, os economistas projetam que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) feche o ano em 4,35%, perto do teto do alvo. Para 2025, a estimativa está em 3,95%.
A meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
Com os efeitos defasados da política monetária sobre a economia, o BC tem a inflação de 2025 na mira e já olha também para 2026.
Fonte: Folha de SP