BB e Petrobrás, comandados por mulheres, têm poucas líderes, diz pesquisa
Tarciana Medeiros (foto), 45 anos, se tornou em janeiro de 2023 a primeira mulher a assumir o comando do Banco do Brasil desde a fundação do maior banco público do país, em 1808. Mulher, negra, nordestina e lésbica, a chegada da administradora ao topo da organização, depois de 22 anos de casa, foi recheada de significados.
Mas isso não impediu que o banco apresentasse um dos índices mais baixos de contratação de mulheres na liderança ao longo de 2023, segundo levantamento do especialista em governança corporativa Renato Chaves, ao qual a Folha teve acesso com exclusividade. A pesquisa tomou como base os formulários de referência enviados este ano à CVM por empresas que integram o Ibovespa, o principal índice da bolsa, com base no exercício de 2023.
Em resposta à reportagem, o BB contesta os dados do levantamento. O banco afirmou ter 26,7% de mulheres em funções de liderança que exigem senioridade, mas sua meta é atingir 30% até 2025. Ainda assim, o índice do Banco do Brasil está abaixo da média observada em empresas do Ibovespa, de 33,2% de mulheres na liderança, segundo a pesquisa.
Os formulários de referência são relatórios online que devem ser enviados todo ano pelas companhias abertas à CVM, com dados financeiros e outras informações referentes ao exercício anterior. Desde 2023, o documento vem acompanhado de um questionário ESG (governança ambiental, social e corporativa), que deve ser respondido pela empresa para que investidores e acionistas avaliem o nível de diversidade racial e de gênero na companhia, e o quanto as minorias estão representadas nas posições de liderança.
Foi assim que o levantamento feito por Renato Chaves identificou que, além do BB, outras grandes estatais que pertencem ao Ibovespa, como Petrobras, Embraer e Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), têm bem menos mulheres na liderança do que a média das 83 empresas que compõem o Ibovespa, que é de 33,2%.
Curiosamente, a Petrobras, uma das maiores petrolíferas do mundo, acaba de empossar uma mulher na presidência da companhia.
Magda Chambriard, 66, foi nomeada CEO da Petrobras em maio, se tornando a segunda mulher a assumir o cargo nos 70 anos da empresa (a primeira foi Graça Foster, em 2012). Engenheira civil, com mestrado em engenharia química, é especializada em engenharia de reservatórios e avaliação de formações, abrindo espaço em um setor majoritariamente masculino.
AS ESTATAIS DO IBOVESPA COM MENOS MULHERES NA LIDERANÇA
Segundo pesquisa do consultor Renato Chaves, com base nos formulários de referência 2023 enviados pelas empresas à CVM
Petrobras
Índice de mulheres entre os líderes: 5,1%
Banco do Brasil
Índice de mulheres entre os líderes: 10,7%
Embraer
Índice de mulheres entre os líderes: 16,5%
Cemig
Índice de mulheres entre os líderes: 19,2%
Questionada pela Folha, a Petrobras disse que apenas 12% do seu efetivo preencheu o questionário sobre identidade de gênero –o que distorce os resultados finais identificados na pesquisa de Renato Chaves.
Segundo a companhia, a participação de mulheres no quadro geral é de 17%, mas em cargos de liderança elas somam 23% (ainda assim, abaixo da média geral do Ibovespa, de 33,2%).
A empresa espera chegar aos 25% de mulheres na liderança até 2028. Neste ano, a companhia aderiu ao Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça do Ministério das Mulheres.
"Pela primeira vez na história da Petrobras, quatro mulheres atuam simultaneamente na diretoria, um número recorde: a presidente Magda Chambriard e as diretoras Clarice Coppetti, Sylvia Anjos e Renata Baruzzi", diz a empresa.
O Banco do Brasil afirmou ter 45% de mulheres no conselho diretor e 50% no conselho de administração. O banco diz adotar programas de ascensão corporativos, como o que envolve a superintendência comercial, em que 70% das vagas são reservadas para mulheres.
"Há mais de cinco anos criamos o Programa Liderança Feminina com o objetivo de aumentar o número de mulheres em cargos de liderança", afirmou o banco. Segundo a instituição, seu quadro total de funcionários é composto por 40,9% de mulheres.
A Embraer, por sua vez, afirmou que "definiu a meta aspiracional de 20% de mulheres na liderança sênior até 2025", e que vem trabalhando para alavancar a participação feminina na aviação, que é "historicamente pequena por razões culturais." Há dois anos, criou um programa de treinamento para a aceleração da carreira de mulheres, e no ano passado passou a integrar a iniciativa "25by2025", da Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo), que tem o mesmo objetivo.
"Por meio de projetos sociais, a Embraer incentiva um número crescente de meninas e jovens mulheres a optar por carreiras relacionadas às ciências exatas, na intenção de formar novos talentos para a indústria aeroespacial", disse.
Já a Cemig declarou que estabeleceu este ano metas para ampliar a participação de mulheres e de minorias em todos os níveis hierárquicos da empresa, a partir dos resultados coletados em um censo realizado com funcionários. A companhia lançou em 2023 o Programa de Diversidade e Inclusão.
Fonte: Folha de SP