Balanço do Bradesco: O Banco saiu da crise ou não? O que os números dizem

O Bradesco reportou uma queda de 1,6% no lucro líquido recorrente do primeiro trimestre de 2024. A comparação é com o mesmo período do ano anterior. Foram agora R$ 4,211 bilhões. Por outro lado, o lucro é 46,3% maior do que o registrado no quarto trimestre de 2023.

Então o banco está saindo da crise?
Não é bem assim. No início de fevereiro, quando apresentou os números de 2024, o Bradesco decepcionou o mercado e suas ações derreteram na Bolsa: em dois dias, o banco perdeu R$ 26,8 bilhões em valor de mercado.

O valor de mercado caiu 31%. A instituição financeira, que começou o ano valendo R$ 172,227 bilhões, chegou a cair para R$ 138,76 bilhões em fevereiro e, no dia 30 de abril, valia R$ 140,545 bilhões, conforme a Elos Ayta.

As ações estão em baixa desde o começo do ano. No acumulado de 2024, enquanto o Ibovespa encolheu, 6,16%, BBDC4 caiu 17,66%, segundo a Elos Ayta.

Por que tanta queda?
Ao longo de 2023, o banco vinha apresentado resultados abaixo do esperado, principalmente por conta da inadimplência. Ela chegou ao pico em junho. A inadimplência de curto prazo (15 a 90 dias) marcou 4,4% em junho, ante 4,6%, em março, e 3,6%, em junho de 2022. Para pessoas físicas, os números foram 5,3%, 5,5% e 4,9%. No caso de grandes empresas, os valores ficaram em 1,3%, 1,4% e zero.

Por isso, as provisões do banco para perdas cresceram. Um banco precisa ter uma poupança para aplacar essas perdas, as provisões para empréstimos inadimplentes (conhecidas pela sigla PDD — Provisão para Devedores Duvidosos). No segundo semestre de 2023 ficaram em R$ 10,32 bilhões. Elas cresceram 8,4% em relação ao primeiro trimestre de 2023.

Dessa maneira, o Bradesco apresentou em fevereiro um plano estratégico. Para s próximos cinco, a ideia é retomar a rentabilidade e tornar a sua estrutura de decisões mais ágil.

Isso já se reflete no balanço do primeiro trimestre?
Ainda não. Mas desta vez, a PDD somou R$ 7,8 bilhões, o que corresponde a uma queda de 17,9% ante o 1º trimestre de 2023 e de 25,8% em relação ao 4º trimestre do ano passado.

Mas tem um problema: elas não consideram os R$ 953 milhões que o banco tem emprestados para a Casas Bahia (BHIA3). A varejista anunciou que fez uma negociação extrajudicial com bancos, incluindo o Bradesco, no domingo (28).

"A inadimplência veio mais controlada, a carteira de crédito está melhorando, mas os números ainda são muito neutros"
Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank

Outros analistas pensam o mesmo. "Quando batemos o olho no balanço, pode parecer que o banco está evoluindo forte e o plano está funcionando. E não é bem a realidade", diz Lucas Tonello, analista da Benndorf Research.

O que acontece é que o setor está melhorando e o Bradesco acompanha. "Alguns bancos estão com previsão de melhoria no resultado na comparação trimestral", diz ele. Embora os juros ainda estejam altos, estão menores que no ano passado e isso dá um alívio para recuperação de empréstimos em atraso para on setor todo.

Mas outros indicadores do Bradesco, como a margem financeira com clientes, não vão bem. As receitas com a intermediação financeira de operações de crédito, principalmente, caíram 5,9% — na comparação com outubro, novembro e dezembro — e 14,4% em relação a janeiro, fevereiro e março do ano passado. "Essas quedas sugerem que o banco ainda enfrenta desafios em sua atividade central de intermediação financeira", diz Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações. É por isso que as ações estão caindo nesta quinta-feira.

O que fazer com BBDC4?
Para o Banco do Brasil, o Bradesco ainda é uma boa compra. "Atualizamos o novo preço-alvo para R$ 16 para o final de 2024, o que representa um potencial de valorização de 14,3%", publicou Rafael, reis, analista do banco, em documento para investidores. O Itaú projeta um preço alvo também de R$ 16.

Mas o Goldman Sachs acha que essa é uma ação que vai patinar durante 2024. Provavelmente, conforme prevê o banco americano, BBDC4 deva terminar o ano com o mesmo valor atual, sem ganhos nos próximos 12 meses.

Fonte: UOL