Após pressão, Febraban coloca no radar dos Bancos bloqueio a correntista desmatador
Amaury Oliva, diretor de Sustentabilidade da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), afirmou que o bloqueio direto de correntistas que tenham sido flagrados em situações de desmatamento da Amazônia ou outros biomas brasileiros está sendo discutido pelos bancos. “A situação dos correntistas é algo que está no nosso radar, mas é preciso ter cautela.”, afirmou Amaury.
A declaração do executivo ocorreu durante o 33° Febraban Tech, congresso que aconteceu em São Paulo nesta quinta-feira, 29, e veio em um momento em que a entidade está sendo pressionada a adotar uma postura mais efetiva de autorregulação e bloqueio direto de correntistas desmatadores. O tema ganhou destaque após a federação, que reúne os principais bancos do Brasil, ter anunciado, há algumas semanas, um protocolo setorial que visa restringir a concessão de crédito para frigoríficos que não conseguirem garantir a rastreabilidade de sua cadeia produtiva até 2025.
Diversas instituições passaram a cobrar dos bancos e da Febraban que criem um sistema próprio de rastreabilidade para bloquear as movimentações bancárias de pessoas físicas e jurídicas que degradam o meio ambiente. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), pediu uma reunião com a entidade para discutir o assunto.
Oliva não falou em prazo para implementação dessas novidades ou deu detalhes sobre o andamento dessas tratativas. Ele moderou o painel “Bioeconomia exige compromisso de carbono e cerco ao desmatamento”, que contou com representantes da Embrapa, BTG Pactual, Caixa e BNDES.
Projeto em construção deve ser multiplicado
Ainda durante a Febraban Tech, a assessora de sustentabilidade da Febraban, Thaís Naves Tannús, afirmou que a entidade pretende se aprofundar nas discussões e também olhar para outros setores, trazendo diferentes atores para o debate sobre a preservação dos biomas brasileiros. O objetivo é observar o que pode ser feito pelo setor bancário e também por meio de instrumentos públicos para combater crimes de maneira mais efetiva os crimes ambientais no país.
“Essa foi uma crítica que rodou sobre esse tema [a autorregulação], algumas mídias trouxeram esse contraponto”, reconheceu Thaís. “É um trabalho em construção, cada passo que damos a mais abrimos novos caminhos e estamos aprofundando nossas ações nesse tema ainda. Em outubro de 2023 teremos um congresso sobre compliance e prevenção à lavagem de dinheiro e esse será um dos temas a serem abordados”, finalizou.
Possíveis soluções para o setor
Em seu painel na Febraban Tech, Marcelo Pimenta, head de Agronegócio da Serasa Experian, destacou que a Abiec cobrou, de maneira compreensível, que os bancos bloqueiem clientes que têm problemas socioambientais. De acordo com ele, “é complexo tratar esse assunto e os bancos estão trabalhando de forma a encontrar soluções e criar capacidade de reduzir riscos”.
“Há casos de produtores com alto score de crédito, mas também alto grau de risco ambiental, com score ESG baixo. São cerca de 5% de produtores nessa situação e muitos bancos mantêm o crédito para esses perfis, o que pode trazer um grande risco reputacional”. Para endereçar essa questão, há ferramentas como o Serasa Score ESG, que oferece análises socioambientais, com utilização de imagens capturadas via satélite, que avaliam produtores rurais e podem ajudar os bancos na melhor tomada de decisão.
Fonte: Exame